Em meio à crise do consumo, Arthur assume Prefeitura de Manaus como há vinte anos

30/12/2012 14:36

Em 1992, a abertura às importações deixou cidade em crise. Desta vez, o prefeito encontrará um cenário de ‘crise de consumo’ causado pela restrição dos bancos ao crédito

[ i ] No primeiro mandato de Arthur, cidade era ‘alvo’ de turistas em busca de produtos importados

Manaus - A primeira gestão de Arthur Neto como prefeito de Manaus ocorreu em meio à pujança econômica da época e terminou em meio à crise por conta da abertura das importações em 1992.

Vinte anos depois, Arthur retorna ao comando da cidade em um cenário de ‘crise de consumo’ causado sobretudo pela restrição dos bancos ao crédito, motivado pelas altas taxas de inadimplência que tiveram um reflexo imediato sobre o ritmo das linhas de produção do Polo Industrial de Manaus (PIM).

No primeiro mandato de Arthur, a capital tinha a chamada Zona Franca do comércio e atraía pessoas de todo o Brasil que vinham em busca de importados mais baratos.

Ainda sem tantos camelôs no Centro, Moto Importadora, Ditoka e Sukatão comandavam o comércio, enquanto Sharp e Gradiente tinham grandes faturamentos na indústria. Este ciclo se encerrou com algumas medidas do governo Fernando Collor.

Durante o mandato, a gestão de Arthur enfrentou duas mudanças de moeda: em janeiro de 1989, o Brasil passou do Cruzado para o Cruzado Novo, e, em março de 1990, assumiu a terceira versão do Cruzeiro.

Segundo o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL-Manaus), Ralph Assayag, apesar da alternância cambial e a alta inflação, o comércio de Manaus vivia o auge com a Zona Franca.

“Tudo era novidade e sucesso absoluto. O cliente vinha de fora para comprar produtos importados aqui”, disse. Segundo ele, o videocassete era um dos itens mais vendidos da época. “Mas depois que o Collor abriu as importações, tivemos uma crise que seguiu até 2000”.

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo, era diretor da Honda quando Arthur foi prefeito pela primeira vez.

Ele também afirmou que o setor viveu um bom momento até 1992, ano que a inflação e a Lei da Informática (Lei 8.248/91) afetaram a produção do Estado. Até o início de 1990, o modelo tinha 85 mil postos de trabalho diretos, número que foi reduzido a 35 mil, em setembro de 1992.

“Os polos de Duas Rodas e Eletroeletrônicos já eram os principais da Zona Franca. Tínhamos uma grande produção de TVs (de tubo) e videocassetes, que depois, foram substituídos pelas TVs de LED, tablets e smartphones”, disse. “Arthur vai assumir o município em um momento melhor”.

Impostos

Originário de um partido de esquerda, o PSB, Arthur evitou aumentar impostos municipais, segundo o economista Frederico Gaia, que na época era membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

“Arthur já trazia um período de renovação no secretariado, cercando-se de pessoas técnicas, da universidade”, comentou. O então prefeito deixou o Executivo com a Unidade Fiscal do Município a 99.075,00 cruzeiros, equivalente a R$ 36,02, atualmente.O orçamento da prefeitura também era inferior: cerca de R$ 200 milhões.

Ralph Assayag relembra que a carga tributária, na época, era bem menor, mas com o aumento do número de servidores e de secretarias pelas outras gestões, os governos reajustaram as taxas.

Novo prefeito  aposta na redução do custeio

Com um discurso de redução dos gastos para ampliar o poder de investimento, Arthur Neto (PSDB) reassume a Prefeitura de Manaus duas décadas depois de deixar o cargo.

Para melhoria da capital, ele irá economizar mais reduzindo o número de secretarias, ocupando 70% dos cargos comissionados existentes e revisando contratos. Apenas com as duas primeiras medidas, o prefeito eleito espera poupar R$ 200 milhões, por ano. “São investidas que vão nos ajudar a resolver os problemas de Manaus”, disse.

Arthur afirmou que irá procurar meios de aumentar o orçamento da prefeitura, que acumula uma dívida de R$ 506.765.158,70. O aumento da carga tributária é uma alternativa a ser avaliada, segundo o prefeito que diz estudar a implementação da Taxa do Lixo e da Zona Azul, já aprovados pela Câmara Municipal de Manaus (CMM).

“O Centro de Manaus não pode ficar como está”, disse se referindo ao Zona Azul, projeto que prevê um estacionamento rotativo na área.

O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/AM), Ailson Rezende, relembrou que, em 2013, o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) já estará mais caro em função do reajuste de 5,9% concedido pelo prefeito Amazonino Mendes, que aumentou a Unidade Fiscal do Município (UFM) para R$ 74,59.

“Mesmo ele (Arthur) não fazendo nada, o imposto já vai estar mais caro”. Rezende elogiou o corte nos gastos anunciados pelo novo prefeito. “Ele, quando senador, criticou os gastos desnecessários da Prefeitura. Agora como prefeito, ele poderá fazer isso”.