Contas da Delta e depoimento de Perillo esquentam CPI

04/06/2012 08:54

A convocação de Agnelo Queiroz surpreendeu o governador e seu partido, mas a de Perillo já era esperada

Tamanho da Fonte     Por Marivaldo Silva /Folhaamazonica.com

Agnelo:  Cachoeira e a Delta se deram mal em negócios que tentaram com o GDFFoto: BritoAgnelo: Cachoeira e a Delta se deram mal em negócios que tentaram com o GDF
Palco de interesses controversos, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, que investiga as relações do bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, promete começar a esquentar depois que foram aprovadas a quebra de sigilo das contas nacionais da empresa Delta e as convocações dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Não fosse isso, o que a sociedade “atônita” tem assistido até agora é a um festival de sessões improdutivas nas quais o silêncio dos depoentes desafiam a institucionalidade da própria comissão.


A comissão parlamentar aprovou na terça-feira (29) a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico das contas nacionais da construtora Delta. De acordo com as investigações da Polícia Federal, a Delta, uma das empresas com mais contratos com o governo federal, repassou dinheiro para empresas fantasmas que alimentavam o esquema criminoso de Cachoeira. A PF mostrou que a empresa Alberto & Pantoja Construções recebeu da Delta nacional R$ 26 milhões, no entanto essa empresa funcionaria numa oficina mecânica, próximo de Brasília. A Brava Contruções, outra empresa de fachada, teria recebido da Delta nacional mais de R$ 13 milhões.


O único a votar contra a quebra do sigilo da Delta nacional foi o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), o mesmo que se envolveu em polêmica ao enviar torpedo (mensagem por celular) para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), tranquilizando quanto ao trabalho de blindagem que faria para evitar que Cabral fosse convocado.


A CPI recebeu requerimentos de convocação dos governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas adiou por três vezes a votação dos requerimentos, o que só veio a acontecer na quarta-feira (30) com a aprovação para convocar Agnelo Queiroz e Marconi Perillo. A convocação de Perillo foi aprovada por unanimidade e a de Agnelo, por 16 votos a 12.


Como prometido por Vacarezza, Sérgio Cabral pode respirar aliviado, pois sua convocação foi rejeitada por 17 votos a 11 sob a alegação de que o governador não havia sido citado nas gravações que estão sendo investigadas. O curioso é que, embora seu nome não apareça, circulam amplamente pela internet fotos que evidenciam a relação próxima do governador carioca com o presidente (agora licenciado) da construtora Delta, Fernando Cavendish. Nem precisa lembrar que a empresa está no “olho do furacão” das investigações.


Agnelo Queiroz e Marconi Perillo não tiveram tanta sorte. Por serem citados pelos integrantes da quadrilha de Cachoeira nas conversas telefônicas gravadas pela PF, eles foram chamados pela CPI para prestar esclarecimentos. O depoimento de Perillo está marcado para o próximo dia 12, enquanto a sessão que espera Agnelo Queiroz está prevista para o dia 13 de junho.

PMDB afasta hipótese de traição

Marconi Perillo quer falar na CPI e manda recados dizendo que vai pra cimaFoto: DivulgaçãoMarconi Perillo quer falar na CPI e manda recados dizendo que vai pra cima
Ao contrário do que alguns políticos que querem fomentar a discórdia andam espalhando, não foi o PMDB que traiu o PT quando da aprovação na CPI do Cachoeira para convocar o governador Agnelo Queiroz (PT-DF). A votação é transparente e além da oposição explícita, os partidos que influenciaram decisivamente para a exposição de Agnelo foram PTB, PP, PSB, PDT e PSD. O PTB, no âmbito do DF, detém o comando da Secretaria de Ciência e Tecnologia. O deputado distrital Cristiano Araújo, que estava à frente da pasta, retornou à Câmara Distrital para atuar na CPI da Arapongagem, mas a expectativa era de que reassumisse o posto no primeiro escalão do Governo Agnelo.
A convocação de Agnelo foi um golpe no PT, mas o PMDB não saiu ileso com a derrota na aprovação da quebra de sigilo das contas nacionais da empresa Delta. De ambos os lados, as alegações são de que está se tornando insustentável impedir o avanço das investigações e o palanque está aberto aos “moralistas” que podem ficar mal diante de seus eleitores. Os holofotes estão ligados em toda potência.


Os partidos PT e PMDB compartilham o comando do Distrito Federal, com a parceria entre Agnelo Queiroz e seu vice, Tadeu Filippelli (PMDB). O esforço da oposição e, por vezes, com a influência do “fogo amigo”, está sendo incutir um clima de desconfiança e instabilidade na relação entre aliados, o que dificultaria o sucesso das ações do governo. O vice-governador Tadeu Filippelli, que preside o PMDB no DF, atribui a derrota petista na convocação de Agnelo à falta de articulação do líder do PT na Câmara Federal, Jilmar Tatto (SP), durante a votação do requerimento. Ele reforça sua tese com dados ao apontar para o resultado da votação. “Basta analisar o placar de votações para ver quem traiu e quem foi leal”, observa Filippelli numa tentativa de apaziguar o ânimo entre os aliados.

 

Agnelo Queiroz acha convocação injusta
Convocado para depor na CPI do Cachoeira no próximo dia 13, o governador do Distrito Federal demonstrou sua indignação. “Respeito o trabalho da CPI, mas a convocação é absolutamente injusta, pois esse grupo criminoso não conseguiu fazer negócios no Distrito Federal, não indicou ninguém aqui no Distrito Federal. E as gravações da Polícia Federal comprovam que esse grupo tentou me derrubar, porque eu era um empecilho para sua atuação no Distrito Federal”, afirmou em entrevista coletiva.


Segundo a assessoria do governador, ele vai refutar as suspeitas de que a empresa Delta Construções tenha recebido “tratamento especial” em seu governo. A Delta tem contrato de R$ 470 milhões com o governo do DF, mas esses foram assinados antes de Queiroz assumir o mandato, no entanto a empresa é acusada de ter relações com o bicheiro Carlos Cachoeira e de dar sustentação ao seu esquema criminoso.
“O governador vai desarticular a ideia de que a Delta Construções teve tratamento especial no governo dele. Não há negócios entre ele e a empresa, entre o governo e a empresa e a ideia de que havia interlocução entre Agnelo e o grupo de Cachoeira será esclarecida no depoimento que ele dará à CPI no Congresso”, revelou o advogado de Agnelo, Luis Carlos Alcoforado.


Alcoforado reforça que houve uma “distorção significativa” sobre os contratos existentes entre o governo do Distrito Federal (GDF) e a Delta. “No que diz respeito à empresa, o contrato da coleta de lixo foi formalizado no governo anterior e mantido por força judicial no governo de Agnelo. Há questões jurídicas envolvidas nesse tema, afinal, há o princípio da independência dos governos”, afirmou Alcoforado.


Mesmo antes de sua convocação, Agnelo Queiroz já havia falado ser “vítima” de investidas do grupo de Carlinhos Cachoeira e alertou que a quadrilha estaria armando para derrubá-lo de seu governo. “Se eu for convocado para ir à CPI no Congresso Nacional, devo ir na condição de vítima. Vocês acham que eles iam plantar informações contra mim se eu os tivesse o ajudado? Foi tudo armado”, havia argumentado o governador antes de ter aprovada sua convocação pela CPI.
Questionado se realmente vai à CPI, Agnelo respondeu que tem um histórico a preservar. “Minha origem é o Parlamento. Tenho 16 anos de mandato parlamentar, no qual respeito profundamente. Será uma grande oportunidade para esclarecer qualquer coisa. Essa crise não é do Distrito Federal nem minha, e eu vou lá para deixar isso claro”.

 

Delta impera no PAC
No centro das atenções da CPI do Cachoeira, a empresa Delta Construções é a empreiteira que mais recebeu recursos do Orçamento federal para executar projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Desde 2007, quando o programa foi criado no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a empresa recebeu cerca de R$ 3 bilhões. O levantamento foi feito pela ONG Contas Abertas, mas esse valor não contempla os serviços que a Delta prestou a empresas estatais, a exemplo da Petrobras, onde a empreiteira embolsou R$ 4,1 bilhões.


Apesar da situação de supremacia da empreiteira nos negócios com o governo federal, a presidente Dilma Rousseff (PT) não quer que seus ministros se manifestem sobre o caso e a ordem é para criar o maior distanciamento possível. Desde o ano de 2009 até o ano passado, a empreiteira só perdia para a Caixa Econômica no volume de recursos recebidos do PAC, no entanto a Caixa é a responsável pela programa Minha Casa Minha Vida.


Até agora nem Lula nem Dilma esclareceram as circunstâncias que fizeram a empresa se infiltrar de forma tão dominante nos negócios do governo federal. Na última semana, a Controladoria-Geral da União (CGU) manifestou que a Delta seguiria prestando serviços para o governo federal enquanto não fosse concluído o processo administrativo no qual ela pode ser declarada inidônea e, com isso, ficar proibida de firmar novos contratos com o governo. Mas o governo federal tem demonstrado a intenção de que a construtora Delta seja substituída o quanto antes dado o perigo de atraso nas obras, principalmente as da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Pressionada pela proporção crescente do escândalo, a construtora Delta começa a abandonar as obras pelas quais é responsável nos quatro cantos do país. Enquanto isso a Controladoria-Geral da União (CGU) da seguimento ao processo administrativo que deve ensejar na declaração de “inidoneidade” da construtora. Caso se concretize a “condenação”, isso impedirá a empresa de fechar contratos com a administração pública e o governo terá que substituir a empreiteira nas obras em que ela foi vencedora.


Enquanto isso, o ex-presidente Lula, recém-envolvido num escândalo no qual é suspeito de tentar inibir a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso do Mensalão do PT, aparece num programa de televisão e faz ampla divulgação de seu apadrinhado para a prefeitura de São Paulo, o ex-ministro Fernando Haddad. Numa aberta campanha fora de época, Lula foi o centro das atenções do programa do Ratinho, na noite da quinta-feira, 31. Ele aproveitou as câmeras para “encher a bola” de Haddad, falar mal dos tucanos e falar de sua possível candidatura à presidência em 2014. O líder petista desafia as leis eleitorais e demonstra ousadia ao tentar se manter próximo do povo para, com isso, tentar intimidar seus adversários e a opinião pública.